A logística louca de uma viagem barata … e um reencontro

Para poder ir ao curso intensivo de introdução em Ação Humanitária na Polônia – onde estudantes de outras seis universidades europeias se reuniriam para assistir às aulas -, eu tive de encontrar um lugar seguro para deixar minhas malas em Bruxelas, assim poderia pegar um voo barato (15 euros) para Varsóvia, onde só é permitido levar uma mala de mão pequena.

Percorrendo mentalmente minha lista de amigos tropecei em lembranças de momentos que compartilhei com um amigo italiano que conheci num vilarejo no norte da Índia. Não o via havia mais de dois anos e não tinha certeza se ainda vivia na Bélgica.

… A Lembrança

Uma amiga húngara e eu estávamos fazendo trekking nas montanhas do Himalaia, no meio do caminho ela não se sentiu bem, decidimos voltar para o vilarejo ao invés de acampar na beira do rio. Naquela noite, acordei assustada de um pesadelo … o mundo desabava em água do lado de fora. Na manhã seguinte, descobrimos que uma enchente havia engolido diversos vilarejos ao redor incluindo parte deste onde nos encontrávamos. Se tivéssemos acampado na beira do rio, também teríamos sido engolidas pelas águas lamacentas.

Foi lá, isolados em Leh pela enchente que destruíra todas as vias de acesso ao vilarejo, que conheci Davide. Trabalhávamos como voluntários … o primeiro dia escavávamos lama fedorenta misturada com detritos de fossos destruídos pela inundação em busca de corpos e, se tivéssemos sorte, de sobreviventes. Indianos, estrangeiros e militares trabalhavam juntos numa massa colorida, desorganizada, mas unida.

Meses depois o encontrei novamente em Pequim … ele estava comigo quando eu fazia malabarismo tentando tirar uma foto com pouca luz sem tripé. E o esforço para tirar esta foto valeu a pena, pois esta é a foto mais vendida aqui no Indagoo! …

Foto P2 - China 2010

Foto P2 – China 2010

Anos depois, agora na Bélgica, ele subia a rua com aquele mesmo andar despreocupado e um sorriso infantil no rosto.

Um pouco mais sobre o Hobbit

Harold, meu host do couchsurfing em Bruxelas (veja o post anterior), viveu um ano no Congo trabalhando como professor, mas foi expulso da escola onde lecionava por trazer para debate em sala de aula a questão da corrupção no país – três filhos de ministros eram seus alunos. Seu pai é um importante cartunista belga e no fundo de seu flat ele planta morangos (eu comia um fresquinho toda manhã!).

Eu sentia como se estivesse visitando um velho amigo! Fui com ele na casa da cunhada num dia, tomar café com seus amigos no outro e de noite caminhávamos sem destino pelas ruelas do bairro conversando sobre política e banalidades da vida!

Fiquei três dias em Bruxelas … um lugar que me fascinava quando eu era pirralha, pois eu lá dentro da minha caixola sonhadora e infantil eu imaginava Bruxelas como uma cidade muito antiga, onde bruxas gordinhas com chapéis pontudos caminhavam por ruas estreitas de paralelepípedos gastos entre casebres com paredes cor de ocre e com chaminés cuspindo fumaça branca.

O Couchsurfing

Talvez algumas pessoas tenham pensado: “Que legal, então couchsurfing é para arrumar acomodação gratuíta por aí?!”. Não! É muito mais do que isso … é a incrível oportunidade de conhecer pessoas interessantes com vieses de mundo tão ricos e diferentes, de compartilhar, de aprender a se adaptar, de vivenciar um lugar através do ponto de vista de um local …

Além disso, este movimento de receber desconhecidos em sua casa no intuito de ajudar e compartilhar renova minha fé na humanidade. Apesar de os telejornais nos apresentarem um mundo violento e perigoso, eu me deparo com muita beleza na vida real (apesar de enfrentar alguns perrengues aqui e acolá!).

O Buraco do Hobbit

Aterrissei em Bruxelas e me dei conta que precisaria alugar um burrico para levar minha bagagem (uma mala de rodinhas pesada, um mochilão, uma mochila e uma bolsa). Como esta opção não era viável, carreguei tudinho eu mesma.

Aproveitei os 30 minutos gratuitos de internet do aeroporto para checar as possibilidades de acomodação. Eu havia enviado alguns pedidos de última hora no couchsurfing (site onde pessoas oferecem seus sofás para viajantes em troca do simples prazer de conhecer novas culturas e de ajudar ao próximo) e também havia mandado uma mensagem para um amigo belga que conheci quando morava numa comunidade nos Pirineus, França.

Para a minha surpresa, havia uma mensagem do amigo belga dizendo que estava no Brasil organizando uma exposição (ele é pintor), ainda assim, ele me passou o seu endereço e disse que eu poderia ficar em seu apartamento – uma amiga dele estava lá e poderia me receber. E, como plano B eu tinha o endereço de um jornalista que me convidou através do couchsurfing para ficar em sua casa. Lá fui eu, como uma tartaruga – com a casa nas costas caminhando na mesma velocidade de uma lesma manca – pegar o ônibus e encontrar o apartamento de meu amigo. Encontrei! … Toquei o interfone uma vez, duas vezes, três … esperei, quatro. Ninguém … parti cansada para o plano B.

Ufa, Harold, o jornalista, estava em casa! Depois recebi a mensagem da moça que estava na casa de Charlie (o amigo belga) preocupada dizendo que não estava mais no apartamento e perguntando se eu tinha onde ficar! …sim, eu tinha!

O flat dele era empoeirado e cheirava a cigarro, mas era aconchegante. Harold, uma figura esguia, simpática e elétrica – parecia um hobbit comprido – me recebeu com um largo sorriso. … próximos capítulos no próximo post!

A Primeira Braçada

Muitas pessoas queridas e pessoas que pouco conheço estão colaborando e me dando muita força com o projeto Indagoo. Então, gostaria a convidá-los a participar da minha aventura! Prometo que tentarei escrever com frequência!

O gatilho

Tudo começou quando eu disse “sim”! Não, não era uma proposta de casamento, mas a tal vaga para a pós-graduação em Ações Humanitárias que eu tentava ingressar há três anos. Junto com o “sim” vieram a insegurança, o medo e tantos outros sentimentos que nos impedem muitas vezes de darmos importantes passos em nossas vidas!

As duas primeiras semanas do curso seriam na Varsóvia, Polônia e o resto do semestre em Groningen, Holanda.“…me joguei em alto mar durante o temporal e agora tenho que nadar … nadar muito!” Essa era, e ainda é, um pouco da sensação que sentia. Esse foi o gatilho que impulsionou a criação do Indagoo … minha primeira braçada na imensidão do oceano agitado (e sábio). (saiba mais sobre o projeto Indagoo aqui)

Pau de Arara

Enquanto o Indagoo ainda ia tomando corpo, fiz intermináveis pesquisas em busca da passagem aérea mais barata possível. Encontrei uma só de ida para Bruxelas, na Bélgica, por um bom preço com a Air Ethiopia. Comprei … para não correr o risco de mudar de ideia! Uma vez na Europa, é fácil e barato ir para outros países – comprei minha passagem de Bruxelas para a Varsóvia por 15 euros.

Embarquei tarde da noite do dia 27 de agosto, cheguei em Bruxelas no dia 29, às 9h da manhã, depois de, entre escalas e conexões, ter parado no Togo, na Etiópia e na França.

Até o Togo a viagem foi tranquila, o avião estava vazio. Acredito que não tem muita gente querendo ir para aqueles lados na atual situação. Deu até para deitar e dormir nas poltronas vazias ao meu lado. Chegando lá, muitas pessoas embarcaram, várias utilizavam máscaras … por conta do ebola imagino.

Na Etiópia, o aeroporto era caótico, uma muvuca colorida e multicultural aglomerada no portão de embarque aguardava os berros dos funcionários informando passageiros de qual voo poderiam embarcar. A parada na França foi rápida e, depois de 30 horas de viagem, finalmente aterrissei em Bruxelas. O próximo passo era encontrar acomodação … gratuita, é claro! … veja os próximos capítulos neste mesmo canal e neste mesmo horário… 😉

Tem foto nova!

Bom dia! … em breve vocês receberão mais atualizações sobre o Projeto Indagoo. Hoje tem mais foto nova … deem um passeio pelas galerias!